sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Da minha precoce nostalgia


Quando eu for bem velhinha, espero receber a graça de, num dia de domingo, me sentar na beira da cama da minha neta e, bebendo um cálice de Porto, dizer :

- Querida, sente-se um pouco. Tenho umas coisas para te contar.

E assim, dizer apontando o indicativo para o alto:

- O nome disso não é conselho, isso se chama corroboração!

Eu vivi, ensinei, aprendi, caí, levantei e cheguei a algumas conclusões. E agora, do alto dos meus 82 anos, com os ossos frágeis, a pele mole e os cabelos brancos, minha alma é o que me resta de saudável e forte.

Por isso vou colocar mais ou menos assim: é preciso coragem para ser feliz. Seja valente !

Siga sempre o seu coração. Para onde ele for, seu sangue, suas veias e seus olhos também irão. E satisfaça seus desejos. Esse é seu direito e obrigação. Entenda que o tempo é um paciente professor que irá te fazer crescer, mas a escolha entre ser uma grande menina ou uma menina grande, vai depender só de você.

Tenha bons amigos. Tenha filhos. Tenha um jardim. Aproveite sua casa, mas vá a Florianópolis, Buenos Aires e Miami. Cuide bem dos seus dentes. Experimente, mude, corte os cabelos. Ame. Ame para valer, mesmo que ele seja o carteiro. Não corra o risco de envelhecer dizendo "ah, se eu tivesse feito...". Tenha uma vida rica de vida. Vai que o carteiro ganha na loteria! - tudo é possível, e o futuro, tsc, é imprevisível.

Viva romances de cinema, contos de fada e casos de novela. Faça sexo, mas não sinta vergonha de preferir fazer amor. E tome sempre conta da sua reputação, ela é um bem inestimável. Porque sim, as pessoas comentam, reparam, e se você der chance, elas inventam também detalhes desnecessários. Se for se casar, faça por amor. Não faça por segurança, carinho ou status.

A sabedoria convencional recomenda que você se case com alguém parecido com você, mas isso pode ser um saco!
Prefira a recomendação da natureza, que com a justificativa de otimizar os genes na reprodução, sugere que você procure alguém diferente de você. Mas para ter sucesso nessa questão, acredite no olfato e desconfie da visão. É o seu nariz quem diz a verdade quando o assunto é paixão.

Faça do fogão, do pente, da caneta, do papel e do armário, seus instrumentos de criação. Leia. Pinte, desenhe, escreva. E, por favor, dance, dance, dance até o fim, se não por você, o faça por mim.

Compreenda seus pais. Eles te amam para além da sua imaginação, sempre fizeram o melhor que puderam, e sempre farão. Cultive os amigos. Eles são a natureza ao nosso favor e uma das formas mais raras de amor. Não cultive as mágoas - porque se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que um único pontinho preto num oceano branco deixa tudo cinza.

Era isso minha querida. Agora é a sua vez. Por favor, encha mais uma vez minha taça e me conte: como vai você ?

Um comentário:

Olivia disse...

ah, se todas as mulheres conseguissem viver a maior liberdade de todas, que é a do próprio espírito! uma liberdade sem insegurança, sem medo e principalmente sem preconceito nenhum...teríamos muito mais velhinhas gostosas por aí, daquelas que realmente tomam um porto e batem um papo! parabéns linda! seu coração é uma poesia!